Contos - A menina e o Abajur

E naquele silêncio,em meio a mais uma madrugada escura e gelada,ela e seu abajur,ligados.

Ela,sem sono,pensava nas palavras que ouviu,nos abraços mais sinceros que já havia dado a alguém,nos sentimentos que nunca havia sentido antes e todas as coisas em que ela viveu.E agora tudo o que lhe restava era o duro e forçado silêncio,Sozinha,com aquela luz fraca do abajur vindo do cantinho do quarto,era quase impossível de segurar as lágrimas.

Ter que deixar alguém partir,não é fácil.

De longe,quando o vento batia mais forte,as vezes dava pra ouvir o som de uma rodovia que logo ali perto passava,e por alguns segundos ela lembrava que no fundo,ela não estava sozinha.Sabia que alguém naquele momento estava indo ou voltando e talvez até se sentindo igual a ela.Meio perdida,decepcionada,triste,mas tendo em consciência que,apesar de tudo,tinha que seguir em frente,sem pegar retornos e que de vez em quando fazer algumas paradas no meio do caminho pra respirar fundo,pra conseguir seguir em frente,é sempre permitido.Tem que estar preparada pros pedágios que virão,pros buracos da estrada e nos novos caminhos que aparecerão ao longo do percurso.

E as horas voavam,e a escuridão ainda permanecia,ela se sentia um pouco cansada,mas ainda sem coragem de ir dormir.Apenas se enrolava na coberta pra se sentir um pouco mais confortável e segura,esperando que o sono viesse,e levasse embora todo aquele cansaço.
Pensar cansa!Pensar no passado e nas possibilidades do futuro,as vezes cansa!
Era tarde pra agir,pra voltar,pra tentar mudar e nem tudo dependia dela.''Talvez amanhã seja melhor'',ela pensava,''por hoje eu só queria dormir''.
E nessas alturas,o céu já começava a clarear,os pássaros anunciavam um novo dia que estava por vir e que naquele dia seguinte ela sabia que poderia dar um primeiro passo para novas tentativas,mudanças e que já era hora de pegar novamente a estrada da vida.
Ela desligou o abajur,abriu a janela pra claridade natural do dia entrar,voltou a enrolar-se no cobertor,ainda quentinho, e foi dormir.
Ter que deixar alguém partir não é fácil,mas é preciso.